8 de março: dia internacional da Mulher

Dia 8 de março é um dia histórico, é o resultado de uma série de fatos, lutas e reivindicações das mulheres (principalmente nos EUA e Europa) por melhores condições de trabalho e direitos sociais e políticos, que tiveram início na segunda metade do século XIX e se estenderam até as primeiras décadas do XX.
Ao ser criada esta data, não se pretendia apenas comemorar. Na maioria dos países, realizam-se conferências, debates e reuniões cujo objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito e a desvalorização da mulher. Mesmo com todos os avanços, elas ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. Muito foi conquistado até aqui e, ainda há, muito para ser modificado nesta história, sempre.
Respeito é a palavra-chave não só para este dia, mas para todos os demais 364.
Como começou o Dia da Mulher
Antes de qualquer coisa, precisamos dizer que há controversas sobre a
real origem da data, mas fato é que uma série de acontecimentos
colaborou para a sua criação.
Em 1910, a jornalista e professora socialista alemã
Clara Zetkin propôs a criação de um dia das mulheres, na Segunda
Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, que ocorreu na cidade de
Copenhague, na Dinamarca.
No dia 25 de março de 1911, operárias da fábrica de
tecidos Triangle Shirtwaist, situada em Nova York, fizeram
uma grande greve em reivindicação por melhores condições de
trabalho. Entre suas exigências estavam a redução na carga diária de
16 para 10 horas, equiparação de salários com os homens e tratamento
digno dentro do ambiente de trabalho.
Durante as manifestações, houve um incêndio na fábrica, que matou
146 trabalhadores: 125 mulheres e 21 homens. A fábrica empregava 600 pessoas,
em sua maioria mulheres imigrantes judias e italianas, com idade entre 13 e 23
anos.
De acordo com o livro “As origens e a comemoração do Dia
Internacional das Mulheres”, da historiadora espanhola Ana Isabel Álvarez
González, o incêndio foi muito significativo para o movimento operário
norte-americano e para o movimento feminista.
Já em 23 de fevereiro de 1917 (8 de março no calendário
gregoriano), mulheres russas foram às ruas contra a guerra. Com o lema
“paz e pão”, elas pediam comida para seus filhos e o retorno dos
maridos das trincheiras.
No entanto, apenas em 1975, por meio de um decreto, 8 de março
foi oficializado pela ONU como o Dia Internacional das Mulheres.
As principais razões para essa data
Infelizmente, motivos para que essa data ainda hoje seja celebrada e
marcada por reivindicações não faltam. Vamos falar sobre a situação da desigualdade
de gênero no Brasil?
O Brasil alcançou a 78ª posição no ranking que mede
igualdade de gênero em 144 países. O dado faz parte do Índice de Gênero dos ODS
2022, da Organização das Nações Unidas (ONU).
E mais: segundo o IBGE, em 2019, as
mulheres recebiam apenas 77,7% do valor dos salários
recebidos pelos homens. A desigualdade atinge proporções maiores nas
funções e nos cargos que asseguram os maiores ganhos. Entre diretores e
gerentes, as mulheres receberam 61,9% do rendimento dos homens. O percentual
também foi relevante no grupo dos profissionais da ciência e
intelectuais: 63,6%.
Para quem acha que estamos perto da equidade, mais uma notícia
desanimadora: a plena igualdade de gênero pode levar 300 anos para ser
alcançada, segundo um relatório produzido
pela ONU Mulheres.
Entre os fatores que deixam ainda maiores as disparidades de gênero,
segundo o levantamento, são: a pandemia de Covid-19 e suas
consequências, conflitos violentos, mudanças climáticas e a perda de direitos
sexuais e reprodutivos das mulheres.
Dia da mulher: mais uma
data comercial?
É muito comum encontrarmos por aí datas comemorativas que foram criadas
a partir de interesses e necessidades comerciais. É o caso do dia dos namorados, por exemplo. Por isso, é um
caminho natural imaginar que o dia da mulher tem uma origem parecida.
Ainda mais se pesquisarmos a respeito do lucro que setores da economia
acumulam com a data - são milhares as flores e as cestas
encomendadas anualmente.
Porém, não é bem
por aí.
Registros mostram que o dia da mulher já é comemorado desde o
início do século vinte na Europa e nos Estados Unidos, muito antes da
oficialização da data por parte da ONU, em 1975.
Muito se fala sobre
o incêndio da fábrica têxtil que ocorreu em 1911 na cidade de Nova York e tirou
a vida de mais de 100 mulheres, escancarando uma realidade de más condições de
trabalho - ainda piores quando se tratava do gênero feminino.
Com certeza é um
episódio a se lembrar, mas as raízes são ainda mais profundas.
Muita luta, muita mobilização e muita
resistência
A verdadeira história do oito de março tem muito mais de resistência
e luta por direitos do que qualquer coisa. Mulheres unidas,
mobilizadas e na luta por direitos básicos. Uma história antiga,
porém muito atual.
Tudo começou com
diferentes grupos de mulheres operárias que passaram a reivindicar por melhores
condições de trabalho.
A alemã Clara Zetkin é um nome fundamental quando
pensamos no dia da mulher. Ativista, professora, feminista e política, ela foi
a responsável por levar a discussão sobre a situação feminina para dentro do
movimento sindical e socialista.
Ainda em 1891,
criou a revista A Igualdade, escrita por mulheres e destinada a trabalhadoras.
Ao lado da também política e ativista, Alexandra Kollontai,
ela propôs a criação de uma jornada anual de manifestações pelo
direito de voto para as mulheres e melhores condições trabalhistas.
Dessa forma, o
primeiro “dia da mulher” é datado em 19 de março de 1911.
Como foi escolhido o dia 8 de março
Mas por que então
comemora-se o dia 8 de março?
A frase que usei
ali em cima sobre “diferentes grupos de mulheres operárias” não foi escolhida à
toa.
A origem do oito de
março não foi escrita em linhas retas e definidas. Podemos pensar nelas como
uma estrada, com vários caminhos e bifurcações que levam a um mesmo destino.
A origem alemã é um
dos caminhos. Mas existem outros.
Em 23 de fevereiro de 1917, um grupo de operárias russas saiu
em protestos nas ruas de São Petersburgo contra a fome e contra a Primeira
Guerra Mundial, em um movimento que ficou conhecido como “Pão e Paz”.
Uma consequência
dessas manifestações é a Revolução Russa, mas é importante ressaltar que o Dia
da Mulher datado de 8 de março e reconhecido pela ONU, parte daí.
De 23 de fevereiro
a 8 de março contam-se 13 dias, exatamente a diferença entre os calendários
juliano (utilizado pela Rússia na época) e gregoriano (adotado na maioria dos
países hoje).
Dessa forma, a data foi instituída como uma homenagem a uma
mulher heróica e trabalhadora. Uma mulher forte.
Mesmo com o pontapé lá em 1917, foi somente 58 anos depois, em 1975,
que a ONU decretou o Dia Internacional da Mulher, celebrando
as conquistas políticas e sociais do gênero.
E falando em
conquistas… você já ouviu falar no nome de Ada Lovelace?
A história da primeira programadora
do mundo. Sim, é uma mulher!
O primeiro código do mundo foi escrito por uma mulher. Ou melhor: o
primeiro código do mundo foi escrito por uma mulher lá no século
dezenove.
Continue lendo para
conhecer essa história.
Ada Lovelace nasceu em 1815 na
Inglaterra, filha de uma brilhante matemática, Anne Isabella Byron, e um famoso
poeta, Lord Byron. Sua trajetória familiar não é tão diferente da de muitas de
sua época: foi abandonada pelo pai quando ele descobriu que teria uma filha, e
não um filho.
Foi educada nas
ciências exatas, e sua mãe fez de tudo para mantê-la longe da poesia. Dizem que
Ada chegou a escrever para Anne: “Se você não pode me dar poesia, pode me dar
ciência poética?”.
E foi nessa área
que se dedicou.
Conheceu e
trabalhou com o cientista Charles Baggage, hoje chamado de “pai do computador”
pela invenção da Máquina Analítica.
Dessa forma, mergulhou nos estudos sobre a invenção, entendeu que as
máquinas teriam uma capacidade de processar informações através de sequências
numéricas e escreveu o primeiro algoritmo da história.
Tudo isso enquanto
vivia em uma sociedade que não considerava mulheres como intelectuais, crescia
sem a presença do pai e era constantemente questionada por outros estudiosos.
Augustus de Morgan
chegou a escrever para a mãe de Ada que, “apesar das habilidades da jovem, as
mulheres não eram capazes de aprender, por não terem a mesma força dos homens”.
E ela arranjou um jeito incrível de provar o contrário!
Como muitas pioneiras por aí, Ada só teve o seu trabalho
reconhecido depois da sua morte. Mais precisamente, quase um século depois.
Ela morreu em 1852,
vítima de um câncer no útero. Suas notas foram publicadas em 1953, quando a
máquina analítica foi aceita como o primeiro modelo de um computador.
Hoje são muitas as homenagens. Existe o Dia de Ada Lovelace,
celebrado em 12 de outubro, e a linguagem de programação Ada,
que leva o nome da matemática.
Agora eu tenho uma proposta: que tal fazer deste oito de março
diferente e compartilhar esses novos conhecimentos com alguém?
Como
comemorar o Dia das Mulheres
Essa é uma data que nem de longe deve ser comemorada com flores e
bombons. Nem mesmo com “parabéns”. O Dia da Mulher deve ser usado para a
promoção de debates, reflexões, fóruns e criações de projetos e leis que
beneficiem as mulheres, especialmente aquelas que se enquadram em minorias,
como as negras, pobres, transexuais e travestis.
Aproveite o Dia da Mulher para ler livros sobre feminismo e entender mais sobre a luta feminista!
Tati Barros
Jornalista mineira, com mais de dez anos de experiência. É criadora e
apresentadora do podcast Solteira Profissional, que aborda o universo
de relacionamentos e sexualidade. Produz conteúdos para diversos
veículos e formatos, com foco, especialmente, nas editorias de saúde, bem-estar
e comportamento. Tem um grande interesse em pautas feministas e sempre está
envolvida com essa temática.
fonte:https://portal.uniasselvi.com.br/noticias/geral/8-de-marco-dia-internacional-da-mulher?gclid=EAIaIQobChMIg5bE7IGg_gIVEzaRCh3gYAOnEAAYAyAAEgIdIfD_BwE
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